Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Representação envolveu cerca de 30 voluntários
A banalizada expressão "carregar a cruz" fez todo o sentido para quem assistiu pela primeira vez a representação da Via Sacra no Parque da Medianeira na manhã de Sexta-feira Santa. Carregando uma mensagem de que a dor e o sofrimento de cada um pode ser amparada pela fé, voluntários reproduziram o caminho que Jesus fez do pretório ao Monte Calvário na então província da Judeia, em Jerusalém. Um público de cerca de 200 pessoas de diversas idades assistiu a cada etapa da peregrinação nas chamadas 15 estações, desde o Altar Monumento até a Basílica, cartão postal de Santa Maria. A manhã cinza e fresca de outono favoreceu a proposta da igreja para o momento: a reflexão. Os olhos atentos da plateia se dividiam entre os semblantes curiosos das crianças, avaliando o figurino imponente dos soldados romanos, e dos adultos, alguns deixando transparecer a emoção por meio das lágrimas.
FOTOS: Santa Maria recebe celebrações de Páscoa
Antes, durante e depois da encenação, o pároco do santuário, Ruben Dotto, inseriu a superação da violência, tema da Campanha da Fraternidade 2018, à reprodução do episódio mais marcante do evangelho. O discurso costura a crise política e moral vivida pelo país ao resultado desse contexto: a violência contra o ser humano.
- Que possamos pensar no sofrimento da nação, nas pessoas que não têm possibilidade de uma vida digna, sem saúde, sem remédios, sem comida. Tudo isso faz parte do sofrimento do Nosso Senhor, que queremos libertar, tirar dessa cruz até a ressurreição.
A cada pausa, fiéis se ajoelhavam, cantavam e faziam momentos de silêncio. A primeira queda de Jesus, o encontro com Maria e a crucificação do corpo de Jesus foram, claramente, as cenas que mais emocionaram o público. Personagens secundários como Simão Cirineu, que ajuda Jesus a carregar a cruz por ordem dos romanos, e toca o sangue considerado impuro pelos judeus, trazem à tona mensagens de amor ao próximo.
- Que saibamos partilhar a dor dos outros, pois vencer a violência é uma forma de amar _ ilustrou padre Dotto enquanto conduzia a cerimônia.
Confira a programação de celebrações de Páscoa em igrejas de Santa Maria
Logo após a simulação da colocação do corpo de Cristo no sepulcro, já em uma das salas nos fundos da Basílica, os fiéis repassaram o caminho da via crúcis em oração, recitando, em coro, o Credo Apostólico. O encerramento é o momento da celebração da ressurreição de Jesus. Com palmas e alegria, os católicos cumprem a manhã de meditação e devoção.
FÉ RENOVADA
Passada a apreensão da organização, a voluntária da paróquia Margarete Medianeira Schuch Braga, 64 anos, comemora o resultado da programação. Ela ressalta que o objetivo da peça não era o entretenimento:
- Queremos que tudo saia conforme prega a tradição católica. Nossa ideia é que as pessoas reflitam sobre o mistério da paixão, morte e ressurreição, que elas sejam tocadas a vivenciar essa experiência.
Foto: Gabriel Haesbaert (Diário)
Gabriel interpretou Jesus pela primeira vez
Movimento nas estradas deve se intensificar a partir da tarde de hoje na Região Central
O ex-seminarista e vigilante noturno Gabriel Christino, 19 anos, intérprete de Jesus, ainda com a túnica branca que deu vida à figura sagrada, lembra:
- Cada um aqui tem seus sonhos, seus medos. Tomar a cruz é seguir em frente. Sem medo do que vai acontecer, pois a ressurreição espera por cada um de nós.
A aposentada Zenilda Zampieri, 75 anos, que também foi voluntária em uma encenação em Cruz Alta, há 60 anos, assistiu e aprovou a interpretação de Gabriel:
- Lá (em Cruz Alta), usamos um ator alto, de olhos azuis. O daqui era um pouco diferente, mas transmitiu muito sentimento. Fiquei emocionada em diversos momentos. Na entrega do corpo de Jesus a Maria, tive que cuidar para não chorar - confidenciou.
Feriadão de Páscoa deve ter chuva e calor na Região Central
A versão de Gabriel e dos cerca de 30 voluntários que participaram da representação também agradou ao casal André Rossi, 78 anos, e Ivanilde Rossi, 76.
- Dessa vez, bateu o recorde. Igual a essa, eu nunca tinha visto - elogiou André.
Tiago de Maman, 6 anos, não diverge das demais opiniões. Depois de assistir à encenação na escola, ele diz que gostou mais de assistir à história de Jesus no Parque da Medianeira. Ele e o irmão Mateus, 3, não estavam lá por acaso, assim como os nomes bíblicos não foram dados a eles em vão. Os pais, a pedagoga Simone Levinski De Maman, 40 anos, e o bancário Evandro De Maman, 42, batizaram os filhos por conta da crença católica.
- A gente espera que eles sigam, desde pequenos, os ensinamentos que sempre tivemos. Hoje, a Páscoa se tornou um feriado comercial, a espiritualidade foi ficando de lado. Por isso, trouxemos as crianças - reforçou Evandro.